A dimensão sígnica e política das espacialidades da urbe

O semioticista da cultura Iuri Lotman aponta que uma das marcas centrais da atividade exercida pelos homens no processo de constituição das culturas diz respeito à elaboração de modelos de divisão e classificação do espaço, construídos com base na demarcação entre o “próprio” e o “alheio”, que igualmente são acompanhados pela correspondente tradução dos mais variados tipos de vínculos, sejam eles sociais, políticos, familiares, religiosos etc., à linguagem das relações espaciais topológicas. É por meio dessas delimitações que se dá a constituição da fronteira semiótica, pela qual é possível discriminar os intercâmbios e os tensionamentos edificados entre diferentes esferas culturais, que igualmente acarretam a contínua redefinição das fronteiras, que não são estáticas. Tendo por base tal compreensão, bem como a perspectiva epistemológica de estudo da cultura subjacente à semiosfera, este trabalho objetiva discutir de que maneira ocorre a constituição das espacialidades da urbe e a dimensão política dessas formas de organização. Segundo nossa conjectura, tais espacialidades são construídas pela fronteira edificada entre as esferas da política e da polícia, tal como elas foram definidas por Jacques Rancière, e irrompem sobretudo na periferia do espaço semiótico da cidade, que seriam mais permeáveis aos intercâmbios estabelecidos com o entorno e cuja apreensão requer, antes de tudo, a discriminação da sua singularidade, ou seja, aquilo que uma espacialidade tem de única. Ainda em consonância com a abordagem lotmaniana, entendemos que o espaço também se constitui como um texto cultural, edificado pelo diálogo entre diferentes esferas culturais e, portanto, é semioticamente heterogêneo. A discussão desse processo terá como objeto o bairro La Latina, localizado na cidade de Madrid. Nele, foi possível perceber de que maneira se dá a constituição de novas espacialidades, muitas vezes absolutamente efêmeras, que redefinem sentidos já estabelecidos por meio dos usos feitos de determinados equipamentos urbanos pelos imigrantes que residem naquela região. Com isso, foram delimitadas áreas semioticamente periféricas, onde a ação política efetivamente se faz presente.
País: 
Brasil
Temas y ejes de trabajo: 
Semióticas indiciales (materialidades, cuerpos, objetos)
Semiótica de la espacialidad (geografías, territorios, fronteras)
Institución: 
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - Brasil/ Universidade Complutense de Madrid
Mail: 
regianemo@uol.com.br

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Accepted
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