Entre o arbitrário e o (i)motivado: das relações entre a linguística e a semiótica

O presente trabalho busca discutir possibilidades e limites de um tema ainda polêmico quando o ponto de partida é a ciência linguística: a arbitrariedade do signo. Os estudos linguísticos saussurianos buscaram inspiração na reflexão de W.D.Whitney, em “A vida da linguagem” (1875/2010), obra na qual a tese do arbitrário é ponto de ancoragem. Assim, o principal conceito que é proposto pelo linguista genebrino Ferdinand de Saussure (1906/1974) – o valor linguístico – parte igualmente da sustentação da tese da arbitrariedade como constitutiva do signo e do sistema. É fato, portanto, que os signos são abstrações e que não sobrevivem senão na relação com os outros signos dentro de um sistema. E a arbitrariedade será, inclusive, um conceito fundamental para que se conceba a língua com o principal dos sistemas semiológicos. Eis o princípio que colocou a linguística como modelo ou carro-chefe do estatuto epistemológico que organizou o campo dos estudos estruturalistas nas décadas de 1950 e 1960. Esse esforço de teorização repercutiu em uma certa primazia do aspecto abstrato dos signos, nas pesquisas semiológicas. No entanto, as manifestações da linguagem na vida cotidiana, ou seja, no âmbito da fala, mostram, não raras vezes, um afrouxamento (ou uma relativização) do laço de união arbitrária que existiria entre significante e significado. Há situações em que a ligação entre o significante (em suas porções material e representacional) e o significado (em sua porção conceitual) deixa transparecer um indício de abalo desse laço. A presença do falante na língua, trazendo à tona o estatuto da experiência, produz uma interrogação acerca da relação entre motivação e arbitrariedade do signo linguístico. E, conforme se pode acompanhar a partir de Merleau-Ponty (1945/2011, p. 45), há algo da ordem da experiência que aparece como causa de uma certa “ilusão”, como se o próprio ato de vivenciar a língua fosse já um mecanismo primeiro a constituir semiologicamente um efeito de forma e sentido. Nossa hipótese na presente pesquisa é a de que esse efeito, fruto da experiência, seria um registro com forte marca indicial da escuta da língua. Dessa forma, haveria, na situação de experiência da língua em uso, uma forte marca imaginária/indicial constitutiva da escuta que o falante tem da(s) língua(s). A presença de um indicador que apontaria para a experiência do falante demandaria uma recontextualização da noção de arbitrário do signo. É justamente sobre esse caráter indicial presente em certas manifestações linguageiras evidenciadas em expressões artísticas como o teatro, a literatura e o cinema que o presente estudo irá se debruçar, ao rever o estatuto da arbitrariedade do signo linguístico.
País: 
Brasil
Temas y ejes de trabajo: 
Los pasajes entre semiología y semiótica
Fundación y fundamentos lógicos de la semiótica
Institución: 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Mail: 
luizamilanos@gmail.com

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Accepted
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