Estratégias narrativas do livro "Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes": trânsito entre pluralidade e reiteração

Com o crescente debate sobre a igualdade entre gêneros e o maior interesse pelas pautas do movimento feminista, percebe-se um aumento na produção de conteúdos ficcionais com protagonismo feminino, bem como a recuperação de biografias de importantes mulheres na história da humanidade. Com relevância no cinema, na publicidade, na moda e na literatura, a temática atravessa as mais diversas linguagens, cabendo destacar o movimento de aproximação com o universo dos produtos culturais para o público juvenil. Neste contexto, o presente estudo toma como objeto de análise o livro "Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes", das escritoras italianas Elena Favilli e Francesca Cavallo. Lançado em 2016 e traduzido para mais de 47 línguas, a obra reúne cem biografias de mulheres de destaque ao longo da história, redigidas de forma sintética e acompanhadas de uma ilustração sobre a personalidade. A proposta do livro foi recebida de maneira exitosa, alcançando o maior financiamento coletivo de livros infantis na história da plataforma Kickstarter. Com grande repercussão e já adaptada para outros canais, a obra pioneira alavancou uma série de publicações que passaram a tematizar o papel destacado de personalidades femininas, seguindo a proposta original. Ademais, também serviu de base para obras voltadas ao enfrentamento de outros preconceitos, como livros que abordam o universo de crianças com necessidades especiais ou tematizam os desafios vividos por pessoas com orientações sexuais não heteronormativas. Reconhecendo a notável trajetória da obra no mercado editorial global, o presente estudo propõe-se a descrever seus processos de textualização, em especial pelo entrecruzamento do campo da literatura com elementos do universo do design e da visualidade. Visando analisar, nos arranjos plásticos e discursivos do projeto editorial, a construção sincrética da temática do protagonismo feminino, a pesquisa se baseia na semiótica francesa, atenta aos processos de significação dos sistemas que mobilizam diferentes linguagens. Para tanto, utilizou-se o arcabouço teórico construído por Greimas e Courtés (2008), Fiorin (2012), Barros (2011), Teixeira (2016) e Pietroforte (2004). Através da análise da articulação entre um plano da expressão e outro do conteúdo, o presente estudo buscou evidenciar as estratégias de construção do papel narrativo das personalidades retratadas, reunidas num conjunto significante - sintagma - de grande diversidade. A análise, ao observar marcas discursivas ligadas à literatura juvenil e ao universo fantástico das fábulas infantis, como na recorrência da locução "era uma vez” e com a opção de percursos narrativos breves e de realização eufórica das personagens, evidenciou um sentido de sanção às performances femininas, apresentadas como percursos de ação modalizados por um "poder fazer". Assim, o sentido biográfico da publicação reitera um certo didatismo para a passagem à ação de outras mulheres, modalizadas pelas histórias apresentadas e investidas agora de motivações da ordem do "saber poder fazer". Tem-se, portanto, procedimentos significantes tanto literários quanto visuais que localizam o objeto como uma obra com viés feminista, interessada em fazer ver a pluralidade de performances exitosas de cientistas, políticas, artistas e ativistas que não se submeteram à exclusividade do protagonismo masculino e, portanto, oferecem suas biografias como modelo a outras jovens "rebeldes".
País: 
Brasil
Temas y ejes de trabajo: 
Semióticas de los lenguajes visuales, sonoros y audiovisuales
Institución: 
Universidade do Estado de Santa Catarina
Mail: 
brunarosamachado@gmail.com

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Murilo Scoz

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