Modos de se dar a ver, fraturas, escapatórias: manifestações político-afetivas no cinema contemporâneo

O estudo ocupa-se dos modos de se dar a ver e das fraturas e escapatórias que se articulam, diegeticamente, nos filmes Uma vida em segredo (Suzana Amaral; Brasil, 2001) e Io sono l’Amore (Luca Guadagnino; Itália, 2009); trata das condições de emergência do sentido na dinâmica dos discursos e sociabilidades, pressupondo como via privilegiada para alargar o entendimento das interações em curso nos variados contextos a observação das práticas intersubjetivas verificáveis na vida cotidiana – pontuada (sempre) por clausuras cerceadoras e (eventualmente) por brechas de escape. Ampara-se na semiótica francesa, em estudos de Eric Landowski (A sociedade refletida [1992], Presenças do outro [2002], para modos de se dar a ver), Algirdas J. Greimas (Da imperfeição [2002], para fraturas e escapatórias), Jean-Marie Floch (Identités visuelles [1995], “Alguns conceitos fundamentais em semiótica geral” [2001], no concernente a contextuais figurativizações identitárias e relações semi-simbólicas). Realçando o figurino como elemento constituinte do sistema sincrético das linguagens (conjuntos significantes articulados em planos de expressão e de conteúdo) convocadas pelas estratégias de expressão cinematográfica, e verificando composições e valores agregados aos trajes exibidos pelas protagonistas, busca-se identificar efeitos de sentido e relações comunicacionais estabelecidas pela mediação do vestuário, problematizando o como a indumentária significa e seu funcionamento, enquanto sistema e processo, nos universos ficcionais selecionados e, extensivamente, em âmbitos não-ficcionais. Respeitadas suas peculiaridades, as duas narrativas fílmicas concentram-se na trajetória de personagens femininas sujeitas a situações que lhes são impostas; a partir de fraturas inesperadas – circunstancialmente apresentadas no cotidiano de cada uma – e de escapatórias – diligentemente por elas construídas –, afirmam as respectivas identidades, liberam-se e autonomizam-se. Seus percursos diegéticos podem ser acompanhados, nas tramas, pelo fio que vai tecendo a vestimenta das duas mulheres: pontos temáticos que surgem alinhavados aqui e ali no pano do plano do conteúdo, no pano do plano da expressão são esteticamente homologados, costurados pela linha do figurino – que não apenas reflete, mas potencializa as transformações sofridas. A indumentária, em cada caso, configurando identidades e produzindo efeitos de sentido que traduzem posturas peculiares, marca lugares político-afetivos instalados/ocupados nos diferentes tempos da narrativa. Posto que a imersão do sujeito em uma dada situação de apreensão de mundo se faz num embate direto, corpo a corpo, a mediação efetuada pelas experiências estésicas revela-se influente e justifica o interesse nos processos de produção das mensagens veiculadas pelo cinema e a importância de se levar em conta efeitos e dimensões imagéticas que definem espacialidades e dinâmicas ideológicas – questões exploradas nas obras em pauta, nas quais as linguagens não-verbais concorrem com as demais para que se estabeleçam os enlaces político-afetivos. Investigando, por meio de análises semióticas, como se estabelecem e se articulam situações de cotidianidade e relações comunicacionais daí advindas, identifica-se topicalizações e redefinições de um feminino inebriado de obstáculos e obstinações de resistência em posicionamentos subjetivos subversivos, determinados pela situação do sujeito semiótico enfocado num recorte de filmes que se encontram no entrecruzar de olhares que imaginam e tecem a discussão do dia a dia de personagens enredadas em malhas de contradições identitárias, políticas e afetivas.
País: 
Brasil
Temas y ejes de trabajo: 
Las semióticas de la escena y de la puesta en escena
Semióticas de los lenguajes visuales, sonoros y audiovisuales
Institución: 
Universidade Tuiuti do Paraná (UTP)
Mail: 
sandrafischer@uol.com

Estado del abstract

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Accepted
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