O desenvolvimento da indústria criativa traz a valorização de um novo tipo de capital, a criatividade, que atua como elemento principal na geração de valor de mercado. A presença da criatividade como motor de discursivização é capaz de remodelar processos e arranjos produtivos, exigindo reformulação de modelos de negócios e permitindo que novos mercados sejam explorados. Neste sentido, a moda enfrenta desafios e precisa lidar com tendências de consumo consciente, questões de sustentabilidade ambiental e financeira, valorização de marcas pequenas, além da renovação da publicidade e participação ativa dos consumidores em relação ao posicionamento da marca e até mesmo quanto ao desenvolvimento de produtos. Assim, iniciativas empresariais podem alavancar seu potencial de mercado colaborando com profissionais criativos, ou marcas que utilizam esses preceitos, para ganhar representatividade em conjunto num mercado dominado por grandes marcas. Dar-se a conhecer como sujeitos motivados por questões da ordem do “poder fazer” em relação à inovação, e se posicionar de forma horizontal e próxima de referências quanto à criatividade são práticas vistas como modalizantes para que se chegue ao sucesso empresarial — não mais limitado ao financeiro, mas entendido de maneira inter e extra empresarial, estendendo-se de certa forma à questões sociais e culturais. A partir destas reflexões, este trabalho expõe um modelo de negócio alinhado a esses aspectos, apresentando o estudo de caso da Coletiza, uma auto-denominada community store localizada em Curitiba, Brasil, que comercializa novas marcas de moda, design e decoração. O espaço conta com expositores “residentes” — uma multimarcas de roupas femininas e uma marca de móveis e objetos de decoração — e trimestralmente renova os expositores denominados “nômades”, que podem oferecer produtos variando de livros a jóias artesanais. O objetivo desta pesquisa está em evidenciar as estratégias de construção narrativa da loja, que se apresenta como promotora de criativos emergentes, estabelecendo relacionamentos colaborativos com seus parceiros e se mostra alinhada a tendências contemporâneas na medida em que discursiviza práticas relacionadas com movimentos de consumo como a sustentabilidade, a cultura maker, o empreendedorismo social, entre outros. Análises das manifestações da marca em meio virtual e entrevistas semiestruturadas com as sócias foram realizadas, utilizando-se como embasamento teórico a semiótica francesa narrativa, na esteira dos estudos propostos por Greimas e Courtés (2008), Fiorin (2012), Floch (2009) e Castilho e Martins (2005). A partir da análise, foi possível concluir que a promoção do consumo com base na experiência e no pensamento sistêmico é uma das estratégias discursivas que podem ser adaptadas a diferentes modelos de negócios para alavancar a inovação e a sustentabilidade de novas marcas no varejo de moda e design.