O aspecto trino do significante: interrogações semióticas

O presente trabalho tem como objetivo discutir, a partir das reflexões do linguista Ferdinand de Saussure, a questão sobre como o falante que tem dificuldade de semiotizar simboliza na língua. Para essa discussão, partiremos da análise de dados da clínica fonoaudiológica de linguagem associada à teoria saussuriana. Dessa forma, nosso foco está no sujeito falante que possui dificuldade de semiotizar; ou seja, há produção de um som, contudo tal som não possui representação no sistema comum de determinada língua. É válido ressaltar, então, que o falante representa linguisticamente a partir do tesouro individual, porém - na maioria das vezes - tal representação não é comungada pelo resto da comunidade linguística. Como há representação, podemos afirmar que há um estatuto semiótico, mesmo que, muitas vezes, esta seja realizada a partir de uma forma inesperada; logo, o aspecto semântico pode ser afetado. Por exemplo, quando um sujeito diz uma palavra de forma desviante, o sentido pode não ser compartilhado entre o falante e seu(s) interlocutore(s) e, assim, há uma quebra no contrato social. Ao pensarmos na produção da língua - tanto referente à forma desviante quanto à forma comungada - precisamos ter em mente que essas manifestações envolvem diferentes naturezas. Pensemos no signo linguístico, conceito saussuriano referente a uma entidade psíquica de duas faces indissociáveis: significado e significante. Fora dessa associação, não podemos falar em signo. No presente trabalho, nosso foco será no aspecto significante - vale ressaltar que, a partir das reflexões do linguista genebrino, só cabe falar em “significante” quando a materialidade, (necessária para a expressão de qualquer sistema semiótico) já está atrelada a uma função simbólica. Assim, ao focarmos no significante, teremos três aspectos a considerar: o articulatório, o acústico e o representacional. O articulatório está a serviço do ponto de vista semiótico, considerando que o falante procura produzir um determinado som em detrimento dos outros; o acústico está na escuta, é o efeito de sentido, pois, em um circuito de fala, determinado som será percebido e associado a um significante pelo interlocutor; e o representacional refere-se à abstração da produção sonora, o fato semiótico por excelência. Nos deparamos, assim, com a abordagem trina do significante, que está embasada na leitura das reflexões de Saussure, que não ignorou nenhum destes aspectos. Em Phonétique, o linguista chega a definir o que chamou de phonétique sémiologique: “Fonética semiológica: se ocupa dos sons e da sucessão de sons que existem em cada idioma enquanto possuindo um valor para a ideia (ciclo acústico psicológico)” (SAUSSURE, 1995, p. 120). Vemos, assim, que a noção de valor é fundamental para que se considere o que poderia ser, simplesmente, uma “massa sonora” em significantes de um sistema semiótico. Abordar o aspecto trino do significante torna-se, então, imprescindível para operar na clínica fonoaudiológica de linguagem.
País: 
Brasil
Temas y ejes de trabajo: 
Los pasajes entre semiología y semiótica
Fundación y fundamentos lógicos de la semiótica
Institución: 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Mail: 
carolinariter@hotmail.com

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Accepted
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