O semiótico, o semântico e o social no nadsat de Burgess

Em Laranja Mecânica, o inglês Anthony Burgess narra as peripécias violentas e narcóticas de um grupo de adolescentes através da fala de Alex, personagem principal do romance. Para isso, o autor inglês cria o nadsat, uma linguagem própria dos garotos, fortemente marcada pela presença de vocabulário russo. Burgess, em comentário à própria obra, menciona que os meninos não seriam diferentes daqueles que vira cometendo atos violentos em Manchester e em Leningrado (São Petesburgo) em um período semelhante. Além do caráter ficcional da linguagem dos garotos ser a língua constitutiva do texto, a grafia dos vocábulos russo, nitidamente embasados na relação fonema-grafema de língua inglesa, credita à linguagem dos rapazes um possível lugar nas análises que se ocupam da relação forma-sentido. Podemos compreender que o nadsat de Burgess e seus personagens corrobora com a noção humboldtiana de uma linguagem aliada à um caráter nacional, mais especificamente no que diz respeito a uma visão de mundo partilhada e a organização que daí advém. A organização mista de sentidos entre as línguas inglesa e russa carecia de uma representatividade semiótica própria, cujo funcionamento se dá tal qual ao daquele proposto pela noção de língua saussuriana, a de um sistema de signos e valores partilhados por um grupo de sujeitos falantes. Independentemente de pensarmos o nadsat como uma língua fictícia ou como uma espécie de representação de gírias adolescentes, parece claro que sua composição hibrida remete, ao mesmo tempo, à realidade das línguas nacionais faladas em qualquer lugar do mundo e à organização social que se dá através delas. Portanto, as formas “trans-escritas” por Burgess vêm a serviço do uso ficcional de Alex e seus drugues, sistematizando e organizando seus atos e o falar sobre eles, mas também à serviço da cultura, uma vez que é através do nadsat que a história do grupo de meninos e narrada e toma forma na obra britânica.
País: 
Brasil
Temas y ejes de trabajo: 
Los pasajes entre semiología y semiótica
Fundación y fundamentos lógicos de la semiótica
Institución: 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Mail: 
cdj.bianca@gmail.com

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Accepted
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