PERFIS DO ATOR COLETIVO MANIFESTANTE DE RUA NOS EDITORIAIS JORNALÍSTICOS: DAS JORNADAS DE JUNHO DE 2013 AOS PROTESTOS DE MARÇO DE 2015

Acolhendo às demandas sociais da contemporaneidade, investiga-se a construção do ator coletivo manifestante de rua. A figura do manifestante de rua é um objeto de estudo pertinente, porque questiona a “individualidade” do eixo da identidade ao remeter a uma coletividade – muitas vezes, desvelada apenas por uma máscara que encobre o ator-indivíduo para “dar vida” ao ator coletivo –; bem como problematiza o eixo da alteridade, desconstruindo o campo do outro como diferença e o ressignificando como presença, no sentido tensivo. Em outras palavras, o ator manifestante de rua, ao acionar discursivamente os temas e as figuras de uma identidade coletiva e, simultaneamente, ao deslocar o papel do outro com seu fazer no mundo – protestar contra ou em prol de determinados ideais, convicções e visões de mundo –, demonstra seu potencial heurístico para os estudos do texto e do discurso. Como corpus, este trabalho acolhe os editoriais de dois jornais de grande circulação no Brasil, O Estado de São Paulo (Estado) e Folha de São Paulo (Folha), publicados em junho de 2013 e março de 2015, noticiando duas mobilizações populares distintas: as Jornadas de Junho de 2013 e os Protestos de Março de 2015. As manifestações de 2013 decorreram do aumento da tarifa de transporte público na capital paulista e depois se espraiaram para outras demandas e pautas sociais e políticas. Os protestos de 2015 aconteceram, após as acirradas eleições presidenciais brasileiras de 2014, questionando a governabilidade da, então, recém reeleita Dilma Rousseff. Examinamos os níveis fundamental, narrativo e discursivo de seis editoriais de cada uma dessas mobilizações populares, sendo três da Folha e três do Estado, totalizando doze textos. Em cada um deles, foi observado como era construído o ator do enunciado manifestante de rua e como essa figura reverberava os valores do ator da enunciação de cada periódico. Partindo dos estudos do percurso gerativo do sentido (GREIMAS; COURTÉS, 2008) e dos desdobramentos tensivos (FONTANILLE; ZILBERBERG, 2001), foi possível depreender que a figura do manifestante de rua construída em cada editorial selecionado – seja aquele pertencente as mobilizações de 2013, seja aquele dos protestos de 2015 – delineou dois perfis: um generalizado (com poucas características, no qual predomina os valores de universo) e um personalizado (com mais características, que o fazem aproximar dos valores de absoluto). Em consonância com uma estilística discursiva (DISCINI, 2015), também depreendemos que a totalidade discursiva desses editoriais indica que o ator coletivo manifestante de rua é um esquema actorial que, ao se investir na figurativização e na tematização dos atores do enunciado, auxiliam a ancorar ideologias, uma vez que podem concentrar ou diluir axiologias que permeiam os contratos fiduciários estabelecidos entre enunciador (fazer persuasivo = fazer-crer) e enunciatário (fazer interpretativo = crer). Isso se aprende pelo interdiscurso convocado pelo sujeito da enunciação para assentar determinadas ideologias e axiologias no âmbito do enunciado por meio da euforização ou da disforização da figura do manifestante de rua. Eis uma contribuição da semiótica aos estudos das ciências sociais, por meio do escrutínio dos efeitos de sentido dos textos.
País: 
Brasil
Temas y ejes de trabajo: 
Semióticas de los discursos doxológicos (político, religioso, periodístico)
Institución: 
Universidade de são Paulo
Mail: 
marcosrmcosta15@gmail.com

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