Uma discussão sobre a experiência do espaço no cinema contemporâneo das telas verticais

Este trabalho parte de uma inquietação sobre o conceito contemporâneo de dispositivo cinematográfico (PARENTE, 2008) e de como a forma do dispositivo (na relação com a prática cinematográfica, planos, decupagem, regras de continuidade, montagem, etc.) vem se definindo na construção do espaço fílmico, bem como de sua representação. Tal inquietação tem como ponto de partida o cinema contemporâneo com o conceito de “cinema de fluxo” ou “estética do fluxo”, expressão cunhada pelo teórico francês Stéphane Bouquet, num artigo publicado na Cahiers du cinéma, em 2002. Tal momento do cinema é entendido pela “adoção de um olhar microscópico sobre o espaço-tempo cotidiano e por uma experiência afetiva pautada pela presença de uma sensorialidade multilinear e dispersiva” (VIEIRA JR., 2015) e em produções que exploram estéticas cujas atmosferas tem “o intuito mais sensorial, valorizando o tempo e ações de pequenas percepções” (CUNHA, 2014). Será que é possível afirmar, então, que os dispositivos cinematográficos permitem, nos moldes atuais e com tecnologias implicadas para, convocar sensivelmente o espectador? Para Vieira Junior, diferentes produções deste cinema instaura uma nova relação do olhar do espectador que é convidado primeiramente a sentir, para apenas depois racionalizar. Em termos semióticos, o telespectador é convocado primeiro pelo sensível, depois pelo inteligível, partindo para isso, de uma atitude voluntarista, “baseada no exercício de um fazer estético que aponta para a construção controlada de um mundo significante” (LANDOWSKI, 2014). Assim, como vimos, o cinema contemporâneo passa a fazer outros usos do dispositivo, dentre eles, o uso dos planos mais abertos e longos, potencializados pelo som, enquadrando ou não as constituições particulares de espaços e/ou personagens; o que traz à tona, por um lado uma possível representação visual calcada na desorientação e desconexão espacial e, por outro, se o espectador está sendo convocado sensivelmente pela obra, não estaria ele então experienciando o espaço? Tuan nos apresenta uma experiência que é ligada ao aventurar-se, ao desconhecido, nem sempre certo e muitas vezes até ilusório (TUAN, 2015). Por tais percursos, o objetivo, aqui, será o de discutir como os dispositivos cinematográficos do cinema contemporâneo ao desvencilhar-se de suas atribuições clássicas interessadas na continuidade e fluidez podem potencializar a construção de efeitos de sentido estéticos e sensíveis na experiência do espaço, como processo de presentificação, quer dizer, o espaço cênico da obra fílmica também como espaço vivido, “um mesmo fazer exploratório que, figurado no enunciado, ou diretamente assumido diante do real, deixa na superfície das coisas suas marcas [...] que transforma o ambiente geográfico e referencial num meio vivo e articulado, sensível e significante” (LANDOWSKI, 2002). Para a discussão são utilizadas produções cinematográficas contemporâneas que tenham sido selecionadas para o Vertical Film Festival (VFF), que acontece desde 2014 na Austrália. O Festival projeta e premia curtas-metragens realizados na vertical, com orientação retrato (9:16). Tais obras são analisadas a partir dos regimes de sentido e interação propostos por Eric Landowski (2002, 2014).
País: 
Brasil
Temas y ejes de trabajo: 
Semióticas de los lenguajes visuales, sonoros y audiovisuales
Semiótica de la espacialidad (geografías, territorios, fronteras)
Institución: 
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR
Mail: 
carolina.fernandes2308@gmail.com

Estado del abstract

Estado del abstract: 
Accepted
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