Veridicção e discurso: informação e desinformação no “jogo da verdade” das agências de checagem de fatos (fact-checking).

(O abstract integra a mesa “A comunicação política contemporânea entre populismo, fake news e pós-verdade”) Os debates em torno do discurso político para a campanha presidencial de 2018 no Brasil foram tomadas por calorosas polêmicas desenvolvidas sobretudo a partir das mídias digitais. Nesse contexto, diferentes sujeitos destinadores e destinatários disputam os espaços de produção, distribuição e consumo de informação, operando com diferentes formas de comunicação e de produção de sentido. Neste artigo, são analisados duas recentes manifestações discursivas resultantes de tal cenário e que se mostram em expansão na atualidade: as chamadas notícias falsas ou fake news, e a produção de conteúdo das agências de checagem de fatos, as fact-checking, que surgem em contrapartida às primeiras, ancoradas na aparente necessidade de saber dos eleitores, alavancando, inclusive da perspectiva comercial, as empresas de mídia de informação. Pretendemos discutir como os discursos sobre a veracidade dos fatos, no centro do debate político, tentam construir a credibilidade em torno de um saber-fazer-crer. Para as análises a empreender, realizadas sob o aparato teórico-metodológico da semiótica do discurso, de base estrutural, as relações de veridicção não tomam a verdade, nem a falsidade como princípio, mas como efeitos de sentido. Esses resultam de uma operação discursiva que articula as relações entre o ser e o parecer, estruturados entre os planos da imanência e da manifestação. A seleção do corpus se deu por critérios de reiteração e de representatividade, assim destacamos trechos de discursos dos editores que os fazem ver como fonte fidedigna em tempos de desconfiança e, dentre as checagens mais comentadas no período eleitoral de 2018, aquelas que dão a ver manifestações de destinadores diversos sobre esse gênero discursivo, desde falsificações até críticas sobre os checadores e seus destinadores, flagradas durante o pleito eleitoral de outubro de 2018, na rede Twitter, no primeiro turno das eleições gerais. As análises mostraram que as agências de fact-checking buscam realizar operações discursivas objetivantes, no sincretismo de recursos verbais, visuais e figuratividade que mascara, por exemplo, o modo como selecionam os fatos a checar. Em contraponto, os falseadores ou disseminadores de notícias falsas, buscam reproduzir esse modo de produção de sentido, desfrutando de sua credibilidade explorando, porém, fortemente a dimensão estésica. Assim, para a massa de usuários das redes, imersos nas bolhas programadas, suas visões de mundo, valores, crenças, ou verdades, acabam se sobrepondo aos elementos factuais, elas próprias tornando-se o fato. Sobre essas bases é que parece trabalhar intencionalmente a estrutura discursiva das fake news.
País: 
Brasil
Temas y ejes de trabajo: 
Semióticas de los discursos doxológicos (político, religioso, periodístico)
Institución: 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Mail: 
valdenise@pucsp.br, simbuenos@gmail.com

Estado del abstract

Estado del abstract: 
Accepted
Desarrollado por gcoop.