A LINEARIDADE DO SIGNO: TENSIONAMENTOS ENTRE A LINGUÍSTICA E A SEMIÓTICA

O presente trabalho é fruto da reflexão a respeito do segundo princípio pertinente ao signo linguístico de Ferdinand de Saussure, qual seja: o caráter linear do significante. Admitindo como ponto de partida a definição exposta no clássico livro Curso de Linguística Geral (SAUSSURE, 1974), obra póstuma fruto de um empreendimento de Bally e Sechehaye, revisita-se esta característica primordial no seguinte enunciado: “O significante, sendo de natureza auditiva, desenvolve-se no tempo, unicamente, e tem as características que toma do tempo: a) representa uma extensão, e b) essa extensão é mensurável numa só dimensão: é uma linha.” (Ibidem, p. 84). Percorrendo também as célebres notas de Tullio de Mauro (SAUSSURE, 1972), em específico as que se referem ao parágrafo do princípio em evidência, encontra-se como interpretação o fato de que o caráter linear do significante “exprime uma das condições às quais estão assujeitados todos os meios de que dispõe a linguística”, e ainda, “é preciso que todos os elementos do signo se sucedam, formem uma cadeia.” (Ibidem, p. 447) No entanto, há espaço no âmbito dos estudos saussurianos para tensionar essa dimensão, uma vez que, o mestre genebrino esteve comprometido em articular pressupostos que desvendam a língua através do prisma da poética e, é neste hiato que se engendra o tecer da poesia com a teoria linguística. Neste entrelaçamento quase artesanal, as considerações de Roland Barthes, proferidas em sua Aula Inaugural da cadeira de Semiologia Literária do Colégio de França (BARTHES, 1977), amparam a trama. Logo no início de sua exposição, ele nos revela o caráter fascista da língua, posto que ela nos obriga a dizer; mas, em seguida, nos sugere na literatura um modo de trapaceá-la – indicando que é no interior da língua que a língua deve ser combatida, desviada. Esta maneira de trapacear, parece semelhante às descobertas que Saussure revela ao longo de seus manuscritos no campo da poética, publicados por Jean Starobinski, e intitulados As palavras sob as palavras: os anagramas de Ferdinand de Saussure. A partir das pesquisas de Saussure sobre textos de poetas gregos e latinos, somos lançados a uma nova rede de contingências de ordem da língua, transgredindo suas leis sistêmicas e viabilizando falar da criação de uma nova forma (hipograma) através de outra forma (palavra-tema), constatações que abalam as noções de linearidade e consecutividade, visto que, “esta leitura se desenvolve segundo um outro tempo (e num outro tempo)” (STAROBINSKI, 1974, p. 34). Nesse sentido, o presente trabalho pretende investigar os desdobramentos desta subversão no âmbito dos estudos linguísticos.
País: 
Brazil
Tema e machados: 
As passagens entre semiologia e semiótica
Semiótica e psicanalises
Instituição: 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Mail: 
melanysdias@gmail.com

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Accepted
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