As Promessas da mediação tecnológica de Ari Folman em O congresso futurista

Ao exibir corpos, vidas e mundos alternativos, O congresso futurista (Ari Folman,2013) abre um diálogo entre arte, tecnologia e representação da realidade. O premiado diretor, roteirista e coprodutor vale-se da realidade aumentada para produzir um efeito inusitado de aproximação entre live action e animação. O self-enactment de Robin Wright é o argumento central de Folman. Num jogo de representação de si mesma, nas cenas iniciais em live action ela se submete ao julgamento do outro, ao discurso da sociedade e por fim, ao destino digital revestido de ‘porta da liberdade’. Em todo o decorrer do audiovisual metafórico, as imagens dialogam com ideias. Voz e planos aparentemente desconexos contribuem para o efeito de sinequismo no roteiro em que a tecnologia conversa com a figura da atriz para gerarem, juntas, uma tentativa de representação digital do real da personagem. Mas a protagonista parece insistir em desnaturalizar o que para outros é natural. Afinal, quem é Robin Wright? As sequências exploram sua relação com o mundo, seus sentimentos, suas necessidades, até chegar ao ponto da película em que ela se encontra em versão animada e pode finalmente escolher. O index appeal da humanidade de Robin reverbera na contextualidade multicultural da produção do filme, enquanto transpiração semiótica de um povo diante da maternidade, da deficiência, do cuidado com o outro. Enquanto interpretante, a tecnologia ultrapassa a verdade capturada ao produzir em pixels um cosmos supostamente submisso à vontade dos indivíduos. Em meio aos signos de desalento de suas vidas, os personagens definem quem desejam ser, onde e como querem viver. Se os recursos de realidade aumentada propiciam às pessoas uma percepção expandida do mundo que as cerca, pode-se afirmar que ao se projetarem diante dos olhos alheios, desvelam-se em suas preferências. Essa visibilidade proporcionada tecnologicamente reflete o desejo da humanidade de ser vista enunciando, dessa forma, significantes de um ideal de humanidade que o diretor perseguiu na representação do real através de corpos, vidas e mundos alternativos no intuito de preencher o que lhes falta. A proposta de mediação está na mesa: digitalmente, resolver conflitos além da verdade, atender necessidades além do tempo, eternizar juventude além da imaginação. Através da análise fílmica do trailer oficial, propõe-se demonstrar como a realidade aumentada, enquanto elemento diegético cinematográfico, faz a mediação, nos moldes da tríade semiótica de Peirce, entre a representação do real e a perspectiva virtual na trajetória de construção da vontade de uma personagem que interpreta a si mesma para sobreviver.
País: 
Brazil
Tema e machados: 
As semióticas da cena e posta em cena
Semióticas indiciais (materialidades, corpos, objetos)
Instituição: 
Universidade Tuiuti do Parana
Mail: 
cassiacassitas@gmail.com

Estado del abstract

Estado del abstract: 
Accepted
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