Entre o verbal, o gráfico e o escultórico: intersemioticidade na publicação Tree of Codes

Vemos aflorar nesse início do século XXI uma forma de literatura intersemiótica em que o objeto literário é criado a partir das relações entre manifestações de vários sistemas semióticos diferentes. Como resultado, encontramos obras editadas em vários países ao redor do mundo que combinam diversas linguagens e que testam os limites daquilo que entendemos como “livro”. Mas como se constroem as relações de intersemioticidade em tais objetos literários contemporâneos? Um título instigante que reflete esse tipo de fenômeno cultural investigado é a publicação Tree of Codes, criada pelo escritor norte-americano Jonathan Safran Foer. Esse livro, lançado pela editora londrina Visual Editions em 2013, é exemplar na maneira como toma diferentes sistemas e os põe em relação. Ele articula o sistema verbal escrito, o sistema gráfico e o sistema escultórico na produção de um objeto literário coeso e original. Essa curiosa publicação foi desenvolvida por meio da exploração da técnica do recorte: cada uma das suas 134 páginas foi produzida com uma faca de corte diferente e, assim, sua leitura se dá entre os espaços preenchidos e os vazados, entre as superfícies impressas e os recortes que nos permitem vislumbrar parcialmente as páginas subsequentes. Safran Foer partiu de um livro já existente que considerava seu “livro favorito”, The Street of Crocodiles de Bruno Schulz e, com base nele, foi esculpindo uma nova narrativa a partir do trabalho original do autor polonês. Ao decompor e recompor as sentenças da obra de Schulz, chegou a esse livro-objeto que pode ser lido tanto palavra a palavra, sequencialmente, quanto em uma apreensão sincrônica da nuvem de palavras e sons espalhados pelas páginas. O resultado é um novo códex que concretiza passagens e articulações diversas entre o sistema verbal escrito e outras semióticas não verbais, como o sistema gráfico e o escultórico. Que metodologia poderíamos adotar na análise desse tipo de literatura intersemiótica? Nossa estratégia é partir da própria relação entre o semioticista e a publicação para, no contato sensível, desenvolver e aprimorar uma metodologia própria de análise à medida nos aprofundamos na relação com a obra. Para isso, partimos do modelo geral da produção do sentido elaborado ao longo de décadas a partir dos estudos de A. J. Greimas e seus colaboradores: o percurso gerativo do sentido e sua estruturação em níveis. Igualmente, levaremos em consideração as relações entre o plano do conteúdo e o plano da expressão, que o concretiza em significantes verbais, visuais, espaciais, táteis etc. Consideramos ainda os avanços da Semiótica plástica, da Sociossemiótica e os estudos da estesia levados a cabo por Jean-Marie Floch, Eric Landowski e Ana Claudia de Oliveira, entre outros. O objetivo principal é compreender o modo como se constroem as relações entre sistemas semióticos diferentes em Tree of Codes. Assim, futuramente, o estudo comparativo com outras obras concebidas de modo intersemiótico permitirá o desenvolvimento de uma tipologia dos modos de intersemioticidade nos objetos literários do início do século XXI.
País: 
Brazil
Tema e machados: 
As passagens e articulações entre semióticas verbais e não verbais
As semióticas das artes: momentos e territórios
Instituição: 
Doutorando PUC-SP:COS/CPS e UNILIM:CeReS
Mail: 
marcbbogo@gmail.com

Estado del abstract

Estado del abstract: 
Accepted
Desarrollado por gcoop.