Do sistema à (im)perfeição da moda, a trajectória do sentido: Estados de Espírito em Ana Salazar

Entre a semiótica e a moda há uma história de amor torturado (Badir) que encerra a trajectória do sentido ao constatamos que a moda assume um papel relevante tanto para a semiologia barthesiana - com "Le sythème de la mode" (1967), projecto de tese que remonta à década de 40 - assim com como para a fundação da semiótica greimasiana - com a tese de Greimas datada de 1948, “La Mode en 1830” -, obras que assinalam o início de uma série de ensaios, diversos quanto ao objecto mas submetidos à análise semiótica, nos quais, em paralelo à exploração do nível da cultura culinária estabelecido por Lévi-Strauss, se procede à análise da cultura vestimentar (Arrivé). Esta via de pesquisa, explorada inicialmente pela linguística, permite detectar e analisar as leis gerais que estão na base de um sistema de vestuário e encarar o vestuário já não como objecto mas como a representação de um sistema de valores e, a partir de então, a moda enquanto corpus de análise da semiótica acompanhará o distanciamento crescente desta relativamente às suas origens entroncadas na linguística, para alcançar e abarcar os domínios do sensível. O desassossego estético, a percepção, o corpo, o sensível e a relação sujeito/objecto passam a ser equacionados e Greimas fala de apreensão estética em “De L’imperfection”. Por detrás desta pesquisa, entrevê-se um vasto programa científico, que antecipa os actuais estudos semióticos, em que o corpo, as práticas, as estratégias e as interacções ganham relevância e tornam-se objecto de análise por uma trajectória que se demarca progressivamente do signo conectando o objecto da semiótica às estruturas significantes que articulam o discurso individual com o discurso social, indagando o sentido dos textos e perseguindo a pegada do homem no mundo. Então, se aceitarmos com Lotman que um texto contém os seus próprios princípios de comunicação e se considerarmos com Fabbri que o texto não é uma série de representações de estados do mundo, mas uma representação de muitos estados do mundo, entre os quais se encontra esse estado específico do mundo que é o facto do texto estar em comunicação com alguém, partimos em busca do sentido e da (im)perfeição da moda tomando como objecto da nossa análise a colecção da criadora de moda portuguesa Ana Salazar intitulada “Estados de Espírito”. Com esta colecção, a criadora invade de emoções o sistema da moda e realça a importância da dimensão sensível do vestuário e cada imagem, cada conjunto de vestuário corporiza um estado de espírito. Detectar de que modo a intensidade das paixões se relaciona com as formas expressivas do vestuário de Ana Salazar, destacando o carácter performativo da linguagem e das paixões desencadeadas, será o nosso desafio: Dos estados de coisas aos estados da alma (Greimas/Fontanille), a semiótica das paixões e a trajectória do sentido da moda balizada por Barthes e Greimas, que se abre a desafios estimulantes na herança dos nossos mestres.
País: 
Portugal
Tema e machados: 
Semiótica e desenho
Instituição: 
Instituto de Comunicação da NOVA (ICNOVA) e Centro de Investigação em Arquitetura Urbanismo e Design (CIAUD) , Lisboa
Mail: 
margaridaaamaro@gmail.com

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